segunda-feira, 6 de maio de 2013

Terminal Novo Rio, Tietê e Mercado Municipal de Montes Claros - retrato da civilização brasileira.

        Assim como existem diversos tipos de traços culturais, eu acredito que existam vários tipos de civilização. Não se pode negar que o Funk é um traço cultural assim como a Bossa Nova é; ambos são manifestações culturais de um determinado grupo de pessoas. 
       Da mesma forma, não podemos negar que um país sujo e fedorento como o Brasil seja civilizado. 
      Basta andar pelas proximidades do terminal novo Rio, na cidade que durante vasto tempo foi capital deste país, que veremos um retrato fidedigno das cidades brasileiras. Salvador e São Paulo também são exemplos da sujeira brasileira. Não há quem suporte andar pela marginal Tietê com o vidro do carro aberto inalando a catinga que se encontra por lá.
         Se engana quem acredita que a sujeira brasileira é retratada apenas na cidade grande. No norte de Minas Gerais, exatamente em Montes Claros, pouco mais de 400 mil habitantes, você percebe a sujeira em todos os cantos; as ruas e praças têm o aspecto sujo e o mercado municipal é uma bagunça só. Assim como no terminal Novo Rio e na Marginal Tietê, quem vai comprar carne de sol no mercadão em Montes Claros, tem a sensação de viver num país não civilizado. 
       Essa é a sensação ao ver sujeira por todo o canto. Porém o Brasil, mesmo que sujo, é um país civilizado. Ao contrario dos norte-americanos, que foram colonizados e civilizados pelos britânicos, nós brasileiros, fomos explorados, digo, colonizados e civilizados pelos portugueses. A imagem que temos dos britânicos é de pontualidade, organização, nobreza e por aí vai; a imagem que temos dos portugueses é de um rei fujão que veio se esconder nas "índias".
           Talvez isso explique porque o nosso país é tão sujo. A raiz da sujeira está na civilização que recebemos e que se estabeleceu. E a sujeira não é só no sentido literal não; ela está na política, na educação, na religião e vem sendo passado de pai pra filho. Somos um país civilizado, porém. o tipo de civilização que temos não é dos melhores. 
          



A Ética no Atacado e no Varejo


     "O aprendizado: a ética nas grandes coisas começa nas pequenas. As pessoas agem no atacado assim como no varejo."


      É incrível como aprendemos muito sobre comportamento humano usando apenas a observação. É simplesmente ficar atento ao comportamento de uma determinada  pessoa, sem interferir verbal e fisicamente. Recentemente tive uma experiência que pude aprender sobre coerência de conduta. 
       Estava eu na sala de embarque do aeroporto de Confins, aqui em Minas Gerais. Também estava ali um conhecido e admirado político esperando o mesmo voo. Quando o funcionário anunciou o embarque, pediu que se apresentasse primeiro os passageiros das filas 10 a 15. Os demais deveriam esperar. É uma técnica para agilizar a operação de embarque que as empresas de aviação usam. Como eu estava na fileira 18, esperei. O político, que se sentava na mesma fileira que eu, foi o primeiro a se posicionar no portão de embarque. Certamente estava no fundo do avião, pensei. Entretanto, quando entro no avião, ele está sentado em uma das primeiras poltronas.

        Durante o pequeno vôo ( BH – SP ) refleti sobre o episódio. Por que o ocorrido me incomodava? Ele não atrapalhou a viagem, nem comprometeu a segurança; não tomou o lugar de ninguém, pois pagara seu bilhete; não constrangeu ninguém, mas mesmo assim me sentia incomodado. Sim, mas por menor que seja o descumprimento a uma norma de conduta constitui uma contravenção – conclui deste conflito mental. Pequena, inocente e até insignificante, mas, mesmo assim, uma contravenção. 
       Do episódio sobraram uma constatação e um aprendizado. A constatação: certamente, para ele, o negócio é levar vantagem em tudo -  um automatismo, mesmo descumprindo as normas, do avião ou até mesmo da constituição da República. O aprendizado: a ética nas grandes coisas começa nas pequenas. As pessoas agem no atacado assim como no varejo. 
     Saiba, você é observado nas pequenas coisas - positivas e negativas -, principalmente se for o líder de um grupo ou tiver as atenções voltadas para você por algum motivo. Sempre alguém notará as sutilezas ou mazelas de seu comportamento cotidiano e pensará: "Ele é assim".
        Para terminar a história do político, o motorista que me apanhou no aeroporto era seu eleitor e fã, a ponto de se emocionar ao vê-lo e comentar: "Ele é um bom político - rouba, mas faz". O que me levou a perguntar-lo: "O senhor não acha que ele poderia fazer sem roubar? Respondeu ele, "Mas ele é um político... São todos assim", ponderou. Essa visão conformista explica muita coisa, segundo ele quem detêm poder  se isenta da ética e da moral.
        Não se trata disso, e sim de uma obrigação. Ele foi eleito para cuidar dos interesses da sociedade, e não dos seus próprios. Sobre isso, diria Platão: "Ética sem competência não se instala. Competência sem ética não se sustenta". A não ser, é claro, que levar vantagem em tudo seja um traço cultural do brasileiro, imposto pela cononização, o que significaria apunhalar a meritocracia. E isso não convém a ninguém que considere a ética um valor, especialmente se for um líder